Para a psicóloga e escritora Olga Inês Tessari, de São Paulo, a estabilidade financeira é indispensável para que a pessoa tenha “vida própria em todos os sentidos”. “De que adianta sair de casa e continuar sendo sustentado pelos pais? Nesse caso, o filho só mudou de endereço, mas continua dependente deles”, afirma.
Por outro lado, ela lembra que a dificuldade de conquistar uma colocação no mercado de trabalho também adia a possibilidade de o jovem ir morar sozinho. Roberto Stelling, de 25 anos, que mora no Rio de Janeiro, está vivendo esta situação. Formado em Marketing há dois anos, ele não conseguiu emprego na área após concluir o curso.
Decidiu mudar de foco e começou a estudar para prestar concursos públicos. “Neste momento, não tenho planos de morar sozinho até me estabilizar financeiramente. E, para isso, espero ser aprovado em algum concurso”, conta.
Enquanto aguarda um resultado positivo, Roberto não vê problemas em permanecer na casa dos pais. “Aqui, tenho menos preocupações, inclusive financeiras. A desvantagem principal, se não for a única, é não ter liberdade total, mas, mesmo assim, para mim não é um problema”, afirma.
De volta para casa
A psicóloga e consultora de imagem Mara Pusch, de São Paulo, lembra casos de filhos que moram por um período fora da casa dos pais, mas depois acabam retornando. “Isso acontece principalmente em famílias de classe média e classe média alta, em que os pais continuam sustentando os filhos, mesmo que eles tenham se mudado”, explica.
Rodrigo Soares Bragante, de 29 anos, decidiu voltar para casa, mas por um motivo diferente. Ele vive em São Paulo, onde trabalha como classificador de materiais em uma empresa de compra e venda de ligas de metal. Atualmente, mora com a mãe e avó, de 96 anos, que está doente. “Já tive oportunidade de dividir um apartamento com amigos, mas não me sinto bem em fazer isso enquanto minha avó estiver precisando dos cuidados da minha mãe”, explica.
Ele revela que contribui nas tarefas domésticas, mas reconhece a comodidade de não precisar lavar e passar roupas nem ter de cozinhar. “Não que eu não ajude a minha mãe, mas sei que morando sozinho seria bem mais difícil em relação a isso.”
Entretanto, Rodrigo lamenta perder um pouco da sua privacidade. “Apesar de ter quase 30 anos, querendo ou não você acaba tendo de prestar contas em relação ao que faz ou deixa de fazer da sua vida”, diz.
Segundo Olga Tessari, para um jovem maduro, o retorno à casa dos pais pode ser como “retroceder no tempo”. “Esses jovens agem no sentido de morar com os pais apenas o tempo necessário para que se tornem independentes financeiramente e possam voltar a morar sozinhos novamente”, explica.