Uma razão para que a
mentira possa persistir como uma estratégia em ambientes sociais é que não é a
comparação dos fatos contra alguma noção de verdade, mas em vez disso, a avaliação de se uma traição da confiança aconteceu ou não, que determina a resposta a uma mentira.
No caso da Guerra com
o Iraque, por exemplo, o fato de que a mentira agravou um conflito poderia ter
representado uma séria quebra da confiança e traição daqueles que iriam sofrer
no conflito. No entanto, qualquer um que aceita como verdadeira a afirmativa de
que o regime em vigor era uma ameaça "inevitável" a aqueles que
pereceram o combatendo, ou aqueles cujas vidas estão em risco como consequência
da invasão, teria uma probabilidade muito menor de considerar agravar o
conflito no momento mais conveniente ser qualquer tipo de traição. A
perspectiva do bom senso conservador com frequência se baseia nesse tipo de suposição de certeza. Mas
se conflitos que são agravados são escolhidos devido a alguma ideologia, é difícil ver como isso difere da simples lógica de
"o poder torna certo".
Mentiras durante a infância
As mentiras começam
cedo. Crianças pequenas aprendem pela experiência que declarar uma inverdade
pode evitar punições por má ações, antes de desenvolverem a teoria da mente necessária para entender porque funciona. De maneira complementar,
existem aqueles que acreditam que as crianças mentem por insegurança, e por não
compreender a gravidade dos seus atos "escapa(m) da responsabilidade
apelando para a mentira". Nesse estágio do
desenvolvimento, as crianças às vezes contam mentiras fantásticas e inacreditáveis,
parecidas com a mentira de Koko, a gorila discutida anteriormente, porque eles
não possuem o sistema de referência conceitual para julgar se uma declaração é
verossímil ou mesmo entender o conceito de verossimilhança.
Quando a criança
primeiro aprende como a mentira funciona, naturalmente elas não possuem o
entendimento moral para evitar fazer isso. É necessário anos observando as pessoas
mentirem e o resultado das mentiras para desenvolver um entendimento adequado.
A interferência da família também é imprescindível para que a criança
compreenda através de bons exemplos a forma correta de agir.
A propensão a mentir
varia muito entre as crianças, com algumas fazendo isso de maneira costumeira e
outras sendo com frequência honestas. Os hábitos em relação a isso mudam
normalmente até o início da idade adulta. Nos casos em que esta mudança não
ocorre, a psicologia os define como adultos no estágio de infância psicológica.
Alguns veem que as
crianças - como um todo - têm maior tendência a mentir do que os adultos.
Outros defendem que a quantidade de mentiras permanece o mesmo, mas os adultos
mentem sobre coisas diferentes. Com certeza a mentira de adultos costuma ser
mais sofisticada, e de consequências maiores do que as contadas por crianças.
Boa parte desse julgamento depende se a pessoa conta inverdades diplomáticas,
insinceridade social, retórica política e outros comportamentos adultos que são
tidos como mentiras.
A questão de se as
mentiras podem ser detectadas através de meios não verbais é assunto de particular controvérsia.
§ Polígrafos são
máquinas de detecção de mentiras que medem o estresse fisiológico que um entrevistado sente
em várias medidas enquanto dá declarações ou responde perguntas. Afirma-se que
picos do estresse indicam comportamento mentiroso. A precisão desse método é
amplamente contestada, e em vários casos bem-conhecidos provou-se que ele foi
ludibriado. No entanto, ele permanece em uso em muitas áreas.
§ Vários soros da
verdade foram propostos e usados
durante depoimentos, embora nenhum seja considerado muito confiável. A CIA tentou
descobrir um "soro da verdade" no projeto MK-ULTRA, mas foi na maior parte um
fiasco.
§ Microexpressões faciais
foram mostradas como um método confiável de expor mentiras, de acordo com o Diogenes Project de Paul
Ekman e do Psy7Faces de Armindo Freitas-Magalhães. Em outras
palavras, um lampejo minúsculo da expressão
facial de
"perturbação", embora difícil de ser vista para o olho destreinado,
pode indicar quando a pessoa está mentindo.
Neurocientistas descobriram que a
mentira ativa estruturas do cérebro completamente diferentes durante exames de
tomografia por ressonância magnética, o que pode levar a um método mais preciso
(embora não prático) de detecção de mentiras.
Ref.: Ângelis, Joanna de. No livro
"Conflitos Existenciais"