Fred Bousquet abraça César Cielo na cerimônia de entrega de medalhas dos 50 mts nado livre (AFP)
Por Luciano Borges
Quando treinam na piscina da Universidade de Auburn, no Alabama, César Cielo e Frederick Bousquet costumam duelar para ver quem é mais rápido em curtas distâncias. O brasileiro vive propondo o desafio. E, nos últimos meses de preparação nos EUA, vinha vencendo o francês nos 15, 25 e 50 metros.
A brincadeira é mais do que um simples tira-teima de dois caras que se dão bem e saem poucas vezes para se divertir numa cidade que não tem muita diversão. “Eu uso estas disputas para ganhar a cabeça dele. Se ele não me vence em nenhuma delas, já vai entrar na piscina para me enfrentar com a pulga atrás da orelha”, disse Cielo.
O medalhista de ouro no Mundial de Roma, nas provas dos 50 e 100 metros nado livre, contou ao Blog do Boleiro que é bom também em outro campo de batalha: o psicológico. “Rola muita provocação entre os caras que nadam o 50 metros. Quando você consegue entrar na cabeça do outro, pode ter vantagem”, disse.
Ele lembra que na “guerra de nervos” vale até colocar a família no meio na hora de acertar o prêmio das apostas. O nadador George Bovell, de Trinidad-Tobago costumava provocar Cielo com propostas deste tipo: “Se eu ganhar aqui, vou poder jantar com sua irmã”.
César garante que não liga muito para estas situações, mas que aproveita quando está bem: “Quando estou cansado e não estou muito a fim, eu vou de boa. Mas quando estou bem, eu sou folgado”, afirmou.
Cielo e Bousquet têm o mesmo técnico, o australiano Bret Hawke. O francês, medalha de prata nos 50 metros nado livre, cuja final foi disputada neste sábado, disse que admira uma qualidade de César: “Ele tem muita determinação”.
A julgar pelas declarações de Frederick, a estratégia dos desafios de Cielo funcionou: “Não acredito que pudesse vencê-lo hoje”, disse uma hora depois de ser batido pelo brasileiro.
César Cielo coloca a seu favor uma série de pequenos gestos e truques: imprime frases motivacionais em folhas que são coladas no quarto, estabelece tempos que quer atingir e os coloca ao alcance da vista, dá tapas no próprio corpo pouco antes de competir e não faz alongamento antes da prova.
“Acho que tenho uma flexibilidade natural, porque não posso alongar. Se alongo, nado mal”, garante o já maior atleta da história da natação brasileira.
Como um campeão não é feito apenas de superstições e força mental, vale lembrar que Bret trabalhou pesado no período de preparação. Só não imagine um atleta com bíceps fortes, ou levantando pesos inimagináveis. “Hoje mudou. O velocista trabalha outros grupos musculares. Não é preciso ficar pesadão, forte, mas com centro de gravidade muito bom”, afirmou César Cielo.
Ele previa fazer em Roma, os melhores tempos a vida. Conseguiu este intento ao vencer e quebrar o recorde mundial dos 100 metros nado livre (46s91), mas vai correr atrá dos 20s06 nos 50 mts em outras competições. Em Roma, ele nadou com o tempo de 21s08.